Estou triste. Quem percebe isso? Estou com medo. Quem percebe
isso? Você é a pessoa que percebe isso. Você não é os seus sentimentos.
No estado de calma e consciência, se você precisar da mente para
um fim prático, ela estará presente. Na verdade a mente funciona muito bem
quando a inteligência maior e real que é você se expressa através dela, como
uma ferramenta.
Aprenda a sentir-se à vontade dentro do não-saber. A mente teme
o não-saber, mas um conhecimento mais profundo que não é baseado em qualquer
conceito vai emergir desse estado.
A mente está sempre querendo alimentar-se para continuar
pensando. Ela procura alimento para sua própria identidade, para seu sentido de
ser. É assim que o ego se cria e recria continuamente.
Você se dá conta de que esse ego é fugaz e passageiro? Quem
percebe isso? É o Eu-Sou. Esse é o seu eu mais profundo, que não tem nada a ver
com o passado e o futuro. Quando você se dá conta de que existe uma voz na sua
cabeça que pretende ser você e não para de falar, percebe que você vem se
identificando com a corrente do pensamento. Quando percebe a existência dessa
voz, você compreende que não é essa voz, mas a pessoa que a percebe. Ter
liberdade é saber que você é a consciência por trás dessa voz.
Ao concentrar toda sua atenção ao momento presente, uma
inteligência muito superior à inteligência da mente autocentrada entra no
comando da sua vida. Sua ação presente se torna não só muito mais eficaz, como
infinitamente mais satisfatória e gratificante.
Ao viver através do ego, você faz do momento presente apenas um
meio para atingir um fim. Você vive em função do futuro, mas quando atingem
seus objetivos eles não te satisfazem. Ou pelo menos não por muito tempo.
Quase todo ego tem o que podemos chamar de “identidade da
vítima”. Muitas pessoas se veem de tal forma como vítimas, que essa imagem se
torna o ponto central de seu ego. Mesmo que as mágoas sejam muito “justas”, ao
assumir a identidade de vítima, você cria uma prisão cujas grades são feitas de
formas obsessivas de pensar. Veja o que você está fazendo com você mesmo, ou
melhor: Veja o que sua mente está fazendo com você. Sinta a ligação emocional
que você tem com sua história de vítima e perceba sua compulsão de pensar e
falar a respeito dela. Ao perceber isso, a transformação e a liberdade virão.
Reclamar e reagir são as formas preferidas da mente para
fortalecer o ego. O eu autocentrado precisa do conflito para fortalecer sua
identidade. Ao lutar contra algo ou alguém, ele demonstra pra si mesmo que
“isto sou eu” e “aquilo não sou eu”. É comum que países procurem fortalecer sua
sensação de identidade coletiva colocando-se em oposição aos seus inimigos.
A inveja é um subproduto do ego que se sente diminuído quando
algo de bom acontece com outra pessoa, ou ela possui mais, sabe mais, ou tem
mais poder do que ele. A identidade do ego depende da comparação. Ela se agarra
a qualquer coisa buscando o “mais”, e quando nada disso funciona, a mente
fortalece seu ego considerando-se “mais” injustamente tratada pela vida, “mais”
doente ou “mais” infeliz do que os outros.
O ego precisa estar em conflito com alguém ou com alguma coisa.
Isso explica por que, apesar de você querer paz, alegria e amor, não consegue
suportá-los por muito tempo. Você diz que quer ser feliz, mas está viciado em
ser infeliz. Essa infelicidade não vem dos fatos da sua vida, mas do
condicionamento da sua mente.
A culpa é outra maneira que o ego tem para criar uma identidade,
mesmo que essa identidade seja negativa. O que você fez ou deixou de fazer foi
uma manifestação da sua inconsciência na época, o que é natural da condição
humana. Mas o ego personifica a situação e diz “Eu fiz tal coisa”, e assim cria
uma imagem de si mesmo como ruim, falho e insuficiente. As palavras de Cristo:
“Perdoai-os, Senhor, pois eles não sabem o que fazem” podem ser usadas em
relação a você.
Eckhat Tolle