Você conhece o tipo: tem sempre uma desculpa na ponta da língua para justificar suas falhas ou seu “azar” na vida. Nada que dá errado é culpa dele, simplesmente porque o sujeito não assume responsabilidade por insucessos; no entanto, sabe vangloriar-se das coisas que correm bem, por menores que sejam e, puxa, como ele é bom em autopromoção nessas horas.
Se você olhar mais de perto, verá que sempre houve quem fizesse as coisas por ele, em especial acobertando seus atos irresponsáveis. É muito comum encontrar uma figura feminina superprotetora fazendo esse papel desde cedo – mãe, avó... –, de modo que a criatura acaba crescendo sem aprender a assumir a responsabilidade pelos próprios atos. Essas figuras, na melhor das intenções, acabam criando um adulto imaturo e impotente, que no fundo se sente um incapaz, afinal foi castrado psicologicamente e sempre teve quem passasse a mão em sua cabeça. Quem é tratado como coitado desde pequeno, cresce acreditando ser um coitado.
O sujeito que não se rebela com esse tratamento e se acostuma com ele, acaba aprendendo a mutreta: fazer o papel de coitado funciona que é uma beleza, porque sempre aparece uma alma caridosa que acredita na impotência, inabilidade, azar, falta de tempo ou o que for dele e dispõe-se a ajudá-lo. E assim ele segue vida afora manipulando os outros – em geral, despertando-lhes pena – para conseguir o que tem preguiça de fazer. Sem mexer o traseiro, comodamente assume o papel de vampiro ou parasita alheio e põe os outros para trabalharem – de graça, preferencialmente – para si.
Mulheres em geral costumam ser alvos mais fáceis e frequentes desse tipo, em especial as mais próximas – da família, amigas ou namoradas –, que vestem o uniforme de super-heroínas e lutam a todo custo pelo bem-estar dos entes queridos. Passam a vida intrometendo-se onde não são chamadas, inclusive comprando brigas de outras pessoas, e gastam muito tempo, energia, saúde e até dinheiro tentando resolver a vida de todos, segundo o ideal que alimentam em suas mentes. Sem contar o desgaste mental e emocional, afinal é mais preocupação que arranjam. Para elas, os parentes, vizinhos, amigos, conhecidos e até estranhos são todos uns coitados impotentes e elas, sim, as grandes salvadoras, as assistentes diretas de Deus, cuja missão na Terra é ajudar indiscriminadamente esses pobrezinhos. Matam-se por eles, acreditando-se almas muito boas, quando no fundo são pretensiosas, vaidosas e trouxas. E, mesmo sofrendo caladas com a ingratidão, resignam-se na crença firme de que estão certas na prática da caridade.
Aqui cabe uma reflexão sobre o que é o verdadeiro bem. Impor sua verdade e seu sonho ilusório de perfeição sobre alguém, tentando ajudar quem não merece ou não quer realmente ser ajudado, não é nada sensato nem inteligente. Ainda mais se, no final das contas, ajudou-se a alimentar a imaturidade, a safadeza e a impotência alheia.
Crianças criadas dessa forma – como reizinhos e princesinhas – crescem não só mimadas, inábeis e irresponsáveis, mas também sem colhões psicológicos. Com isso, tornam-se adultos manipuladores e autoritários que, ao menor sinal de contrariedade, têm acessos de raiva e dão verdadeiros chiliques, criticando tudo e todos e exigindo, indignados e inconformados, que suas vontades sejam aceitas e satisfeitas incondicionalmente. Fazem até chantagem e apelam para inverdades e golpes baixos nessas horas. Ou, ao invés de partirem para o ataque direto, podem reforçar a posição de pobres vítimas indefesas, numa atitude passiva caracterizada pelo “coitadismo”, pela chantagem emocional e a lamentação – “ó, céus! Ó, vida! Ó, azar!...”. Alguns chegam ao ponto de criar uma doença ou atrair um acidente ou evento trágico em suas vidas, tudo para justificar sua condição de “coitado”, despertar a comiseração alheia e conseguir ajudantes em sua “árdua luta nesta vida”.
Existe uma grande diferença entre uma pessoa que está passando por um desafio na vida e não sabe ou não tem recursos – materiais ou interiores – para superá-lo, pedindo ajuda de forma sincera e humilde; e alguém que simplesmente não está disposto a fazer o esforço necessário para resolver a situação e, com jeitinho, tenta convencer os outros a ajudá-lo, enquanto fica sentado esperando pelo resultado positivo no final. Assim é fácil, não? Só que existe um preço: essa criatura não aprende a se virar sozinha, não desenvolve os próprios potenciais, não amadurece, não evolui. Fica cada vez mais infantil, manhosa, manipuladora, arrogante, egocêntrica, ditatorial, sem vergonha na cara, chata e perigosa, porque na mente dela é: “ou você faz o que eu quero ou vai se ver comigo!”
É importante aprender a discernir entre esses dois tipos para não “jogar pérolas aos porcos”. O verdadeiro bem gera o bem e ajuda no crescimento de outras pessoas, ao invés de contribuir para mantê-las estagnadas na evolução. E acredite: nem todo mundo quer de fato ser ajudado e sair da limitação; há gente acomodada que só quer que você desça até o fundo do poço para fazer companhia e levar alimento emocional.
Não existe “coitado”, cada um passa por aquilo que atrai, segundo as condições que cria a partir de seu interior – crenças, pensamentos e sentimentos –, no caminho da evolução. Não existe castigo, apenas desafio para estimular nossos potenciais e ajudar-nos a crescer, de modo que nos tornemos seres mais capazes, maduros, conscientes, fortes e independentes. Que coisa lamentável uma pessoa dependente, sem dignidade, na mendicância... Isso, a meu ver, é pobreza espiritual e falta de luz interior.
Por isso, digo: por trás de todo “coitado” – e alguns se tornam profissionais impressionantes, que conseguem levar muita gente na sua conversa –, existe um safado que insiste em ir contra a Vida, pois o fluxo dela é para frente e para cima, numa evolução constante. É apenas uma questão de tempo para atrair uma situação mais drástica que o force a andar sem as muletas que tanto aprecia. E ai de quem insistir em ajudar o “coitadinho”, porque vai sobrar para ele também, afinal está atrapalhando a evolução do outro. E a Vida, definitivamente, não mima ninguém.