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sábado, 17 de setembro de 2011

O Desapego e a Entrega



O que quer dizer entregar-se? Uma das frases que aprendemos para progredir espiritualmente é: "Entregue-se nas mãos de Deus."' Muitas mulheres têm grande dificuldade com essa entrega.
"Não é que eu não acredite em Deus. É que tenho medo de entregar-me nas mãos de Deus e Deus fazer do jeito'errado', na hora 'errada', com consequências 'erradas'." Esse é o nosso medo. Por isso, precisamos controlar as pessoas e os fatos de nossas vidas para garantir que eles funcionem do 'jeito certo' - o nosso jeito.
Quando nos entregamos, desafiamos as crenças e medos que motivam nosso desejo de manter o controle. Entregar-se é uma forma consciente de enviar uma mensagem para o universo: "Não tenho necessidades ou desejos que não sejam atendidos. Não sou eu quem controla. É o universo que está no controle, e isso é bom para mim." Pensando assim, você sente uma alegria, uma paz, um bem-estar total. Você fez tudo o que podia e depois entregou-se, entregou o seu desejo ao universo, sabendo que ele responderá com o que for melhor para você. Quando você se entrega, cria a noção de que não precisa lutar ou sofrer. Entregar-se dá à sua mente a oportunidade de relaxar e desapegar-se.
Em geral, nossas vontades são compulsivas e impulsivas. O mundo nos bombardeia constantemente com mensagens sobre o que devíamos ter ou fazer, e o que é preciso para levar uma vida rica e gratificante. Nossos sentidos são permanentemente estimulados pelas visões e sons do mundo externo. Como reação ao que vemos e ouvimos, passamos a acreditar que precisamos de uma série de coisas. Precisamos de um carro. Precisamos de uma televisão em cada quarto. Precisamos de um microondas. Precisamos de um bar. Esse bombardeio nos faz sentir que, se não temos determinadas coisas, há algo "errado" conosco. Tememos não possuir as coisas que, segundo acreditamos, dão sentido à vida. Assim, nossa intenção não é satisfazer nossas necessidades mais essenciais, mas satisfazer a cobiça dos sentidos estimulada pelo que a sociedade nos impõe.
Entregar-se ajuda a curar o medo de querer e não ter. Quando nos entregamos, passamos a desejar aquilo que Deus quer para nós. Quando nos entregamos, substituímos o medo e o controle pela alegria e a paz. Começamos a desejar coisas que vão nos dar alegria, paz e bem-estar profundos e nos tornamos cada vez mais capazes de abandonar idéias, hábitos, pessoas e situações que criam estresse, desequilíbrio, desarmonia e medo. Se você consegue entregar-se e desapegar-se, permite que Deus dê o que você precisa.
Quando você guarda um segredo, desapegar-se ajuda a desarmar as ilusões que você vinculou a ele. Desapegue-se da experiência que ficou escondida. Desapegue-se do que pensa sobre ela. Desapegue-se do que os outros vão pensar, se souberem. Desapegue-se da dor, da vergonha, da culpa, da raiva e, claro, do medo. Quando se desapegar e se entregar, peça ao seu espírito, a Deus para revelarem a você o sentido daquela experiência. Peça uma palavra, uma frase, uma inspiração que você possa usar para encontrar paz na experiência. Por pior que você considere a experiência que viveu, ela contém uma lição. Quando você se desapega do medo ligado à experiência, a lição é revelada. Quando você compreende a lição, encontra a paz.
Uma vez, passei por um grave problema financeiro que me fez duvidar de mim mesma e da qualidade do trabalho que tinha feito. Sentia medo de estar errada. Não podia acreditar que, com dois livros vendendo muito bem, eu não conseguisse pagar o aluguel. O telefone tinha sido desligado e eu não podia comprar papel-alumínio parar forrar as assadeiras. Mas continuava aparecendo em público e rezando para que me oferecessem um almoço, pois não tinha comida em casa. Foi uma experiência muito humilhanete à qual sobrevivi aprendendo a desapegar-me.
A primeira coisa de que você deve desapegar-se quando é uma pessoa conhecida mas sem dinheiro é do seu ego. Você tem que decidir se vive a verdade ou se vive o que deseja que os outros pensem a seu respeito. Nós, mulheres, somos educadas para acreditar que nosso valor depende do que temos. Se temos dinheiro, nos sentimos valorizadas e dignas. Usamos o dinheiro para comprar coisas que confirmem tal conceito. Nossas roupas, carros, jóias e bobagens não costumam ter nada a ver com o que realmente queremos e precisamos. Eles apenas ajudam a fazer com que os outros pensem de nós o que queremos. À medida que nossa coleção de "coisas" aumenta, ouvimos elogios e comentários sobre como estamos bem. Mesmo quando não estamos tão bem, possuir coisas nos dá a sensação de estarmos melhor. Sentimo-nos valorizadas.
Quando uma mulher tem problemas de dinheiro, ela de certa forma interpreta essa falta como: "Não estou fazendo a coisa direito. Acho que estou fracassando." Não queremos que os outros saibam da nossa situação porque temos horror a críticas. Deixa-mos a barriga roncar de fome, em vez de pedir para almoçar. Fingimos que estamos doentes e ficamos em casa, em vez de dizer que não temos dinheiro para o ônibus. Não queremos que os outros pensem ou saibam que estamos precisando de alguma coisa, então sofremos em silêncio, pensando: "Droga, onde vou arrumar dinheiro?" Não percebemos que a crítica que tentamos evitar tão desesperadamente nasce e cresce dentro de nossas próprias cabeças. As coisas que achamos que os outros vão pensar ou dizer a nosso respeito são as que pensamos e dizemos para nós mesmas.
Afundada na falta de dinheiro, eu me criticava pela coisas que tinha feito e comprado quando tinha dinheiro. "Gastei demais! Não precisava disso agora!" Além de estar sofrendo por não ter dinheiro, eu estava me castigando e, como sempre, prometendo tomar mais cuidado da próxima vez. O medo de estar errada aumenta as auto-acusações. Você se sente imprestável, incapaz de satisfazer até seu menor desejo. Durante toda a experiência, você procura esconder ao máximo dos outros o que está passando. Eu me encolhia de medo ao pensar na pressão da opnião das pessoas. De repente, tive um estalo. Esqueça o que eles acham! O que é que você acha?
Percebi que tinha esquecido quem eu era. Estava tão preocupada com o que o mundo iria pensar de mim que perdi contato com o meu "eu". Com ou sem dinheiro, sou filha de Deus. Meu valor não está no dinheiro que tenho! Estou temporariamente falida, mas continuo com todos os talentos, dons e capacidades com que nasci. Minha vida faz sentido. Eu tinha que desapegar-me da nessecidade de ser valorizada pelos outros! Tinha que encontrar valor em mim. Não era fácil. Era preciso abandonar os valores que me ensinaram, mudar minha ótica, me entregar para aprender a lição. No meu caso, eram várias lições.
Minha primeira lição era paz. O que eu precisava fazer para ficar em paz com a situação? Desapegar-me e me entregar. Para encontrar a paz, eu tinha de parar de me preocupar com o que os outros achavam de mim. Lição seguinte: Confiar. Será que eu confiava mesmo que Deus iria me proteger e cuidar de mim? Se confiava, tinha que perder o medo e a preocupação. Precisava confiar que, no tempo divino, meu aluguel seria pago. Que todos os dias eu teria o que comer. Tinha de confiar que o forno aguentaria alguns dias sem papel-alumínio nas assadeiras. Eu estava fazendo o possível, Deus traria o resto. Outra lição: Fé. Eu sabia que meus livros estavam vendendo bem e que meus dois editores iriam me pagar os direitos autorais. Sabia que tinha feito um bom trabalho e que ele valia a pena. Sabia também que não podia ter fé se não tivesse paciência. Eu queria o dinheiro já. Queria na hora em que precisava. Mas sabia que não é assim que a vida funciona. Tudo tem sua hora.
Desapegar-se e entregar-se. Para aceitar as lições, tinha que me desapegar de cada pensamento , de cada emoção ligada ao meu medo de não ter dinheiro. Tinha que me desapegar da minha crença sobre o que era segurança financeira. Quando um pensamento ou sentimento surgia para me maltratar eu dizia, o mais alto possível: "Eu me desapego e me entrego". Um vez repeti essa frase inúmeras vezes durante vinte e quatro horas e as portas se abriram. Recebi um cartão de crédito pelo correio. Com ele, pude alugar um carro e ir a qualquer restaurante que quisesse. Comprei o papel-alumínio para o fogão. Encontrei um estado de paz. Em paz, parei, olhei minha vida e entendi que a lição final e mais importante era: nunca, jamais se deixe enganar pelo que as coisas parecem ser na superfície.
Desapegar-se e entregar-se exige confiança. Exige paciência. Exige obediência. O prêmio é aprender a agir sem medo em qualquer situação, sabendo que você vai ter o que precisa e ser protegida. Durante seis dias pratiquei desapegar-me e entregar-me. Você deve concentrar a sua mente para não querer nada, não pedir nada, não ter medo de perder nada. Concentre sua mente na alegria. Recolha alegria em todos os momentos, em todas as situações, em todas as pessoas, porque ela sempre existe. Concentre sua mente na paz, lembrando que aquilo em que você se concentrar vai aumentar. Com uma mente concentrada em desapegar-se e entregar-se, você diminui sua necessidade das coisas e das pessoas, você perde o medo e desenvolve a paciência, a confiança e fé na ordem divina do universo.

Extraído do livro: Sei que vou sair dessa - Iyanla Vanzant

  

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