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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A PAZ


Ela é um estado interior de harmonia e de tranqüilidade. É pensamento, palavra e ação em resposta ao desejo de criar, promover ou manter esse estado.

Uma amiga me contou uma história que me fez entender mais profundamente o que é a paz. A história lhe foi contada por um professor da tradição Siddha Yoga.

Certa vez uma mulher foi a um parque para meditar. Encontrou um local silencioso, ensolarado, abriu uma manta no chão e sentou-se. Fechou os olhos, respirou fundo, preparando-se para começar a voltar-se para seus pensamentos e sensações interiores. Enquanto a respiração ia ficando regular e sua mente se aquietava, deu-se conta de que alguns pássaros cantavam perto dela. De início, acrescentaram melodia e paz à sua jornada interior. Dali a instantes, no entanto, os pássaros começaram a grasnar estridentemente, quase como se gritassem uns com os outros. Enquanto a mulher tentava manter-se concentrada em sua própria respiração, os pássaros pareciam gritar cada vez mais alto.

A mulher abriu os olhos repentinamente. Havia pelo menos vinte pássaros ao seu redor, gritando uns com os outros. Ao olhar em volta e constatar que o resto do parque estava vazio, com um movimento rápido de mão, ela espantou os pássaros dali. Alguns se foram. Os que ficaram permaneceram em profundo silêncio. Assim que ela fechou os olhos, eles recomeçaram a grasnar. Irritada, a mulher procurou outro lugar e sentou-se para voltar à meditação. Os pássaros levantaram vôo e a seguiram. "Isso é ridículo!", disse a mulher aos pássaros. A mulher voltou a expulsá-los, eles voaram um pouco mais alto, mas, como se quisessem desafiá-la, continuaram a grasnar. Completamente enfurecida com os pássaros por perturbarem sua paz, a mulher se levantou e começou a persegui-los. Ela corria para a esquerda e agitava o cobertor em cima deles. Os pássaros voavam, mas não se calavam. Assim que ela se livrava do grupo à sua esquerda, chegava um outro pela direita. Mudando de direção, ela também os enxotava. Eles voavam em círculos ao redor dela, gritando estridentemente, e pousavam a alguns metros de onde ela se encontrava. Em breve a mulher estava agitando os braços, ensandecida, berrando com os pássaros, que grasnavam de volta. Ao se dar conta de que devia estar parecendo uma louca, agarrou o cobertor do chão e saiu do parque pisando duro.

À noite, a mulher contou a experiência ao seu guru, seu professor. Só de contar a história, ela foi tomada da mesma irritação. O guru sorriu e perguntou: "Por que não os convidou a unirem-se a você?" "E como eu faria isso?", indagou a mulher. "Om Nama Shiva", respondeu o guru, "que significa, 'eu me rendo a Shiva (ou Deus), que vive dentro de mim'."

Alguns dias depois, a mulher voltou ao parque. Passou pelo mesmo processo. No instante em que se aquietou, os pássaros começaram a cantar. Tão logo os ouviu, ela declarou, mentalmente: "Om Nama Shiva." Os pássaros começaram a gritar. "Om Nama Shiva." Parecia que os pássaros da região haviam convergido para o local onde ela se encontrava. Ela não abriu os olhos. Continuou a respirar fundo, declarando cada vez mais alto, mentalmente: "Om Nama Shiva. Om Nama Shiva! OM NAMA SHIVA!" Ela mentalizava as palavras cada vez mais rapidamente, cada vez mais alto. De repente, ela se deu conta do silêncio. Ou os pássaros haviam voado para longe ou simplesmente haviam se calado. Ela não abriu os olhos para saber qual das duas coisas tinha acontecido.

Por que razão, quando entramos numa sala cheia de crianças barulhentas, berramos, a plenos pulmões: "QUIETOS!" Se você quer paz, seja a paz. Meu neto de cinco anos, Oluwa, não consegue falar abaixo de 100 decibéis. Certo dia, alguém da família ficou tão exasperado com ele, que gritou: "Dava para você ficar quieto!" As outras pessoas da sala fizeram coro aplaudindo: "Obrigado!" O silêncio de Oluwa durou três minutos. O próximo som a sair da sua boca veio naquele mesmo volume de furar o tímpano.

Se você quer a paz, seja a paz. Como eu sou a vovó velhinha e sábia, aprendi a usar uma abordagem completamente diferente. Quando Oluwa grita comigo, eu me agacho para ficar na altura dele, encosto o nariz no dele e sussurro: — "Não estou te ouvindo. Você está falando alto demais." No começo, ele não entendeu, mas eu ficava no mesmo lugar, encarando-o, olho no olho, até ele baixar a voz. Hoje em dia, quando Oluwa me dirige a palavra, sussurra tão baixinho, que preciso pedir que ele repita o que disse. Ele e o resto da família ainda parecem ter problemas para se ouvirem. Olho para eles e sorrio. Se você quer sentir paz, comece de uma postura de paz. Apenas uma palavra amiga: prepare-se para assumir essa postura pelo tempo que for preciso. E tente fazer dela uma atitude de vida.

Fonte: Um dia a minha alma se abriu por inteiro - Iyanla Vanzant

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