Pense um pouco na maneira como fomos educados, formados, adestrados. Havia um padrão a ser seguido: nascer, ser vacinado, estudar - de preferência obter notas altas -, formar-se, encontrar, junto com um bom emprego, o grande amor de nossas vidas. Fomos educados para alcançar resultados e não valorizar os processos, esses meios-tempos indispensáveis para irmos construindo a auto-estima e a liberdade necessárias para fazermos as escolhas capazes de nos trazer felicidade. O meio-tempo é o espaço de aprendizagem em nossas vidas, quando as experiências - quaisquer que sejam - não são objeto de julgamento, mas oportunidades para aprendermos. O meio-tempo é o momento em que temos coragem de dizer "não sei": não sei o que estou sentindo, não sei o que fazer, não sei como fazer. Não sei, mas vou descobrir, não vou tomar decisões precipitadas só para escapar da dúvida, porque já fiz isso antes e me dei mal.
Quando você não está feliz onde está e não tem muita certeza se quer sair, ou como sair, encontra-se no meio-tempo. Fica se segurando, com medo de cair, sem querer se machucar, com medo de machucar a outra pessoa. Reza para que a outra pessoas vá embora primeiro para você não arcar com a culpa.
A outra pessoa vive dando meio-tempo é assim mesmo, cheio de não sei e não posso. Não sei por que não posso ir. Não sei por que devo ficar. Não sei para onde estou indo. Não sei como vou chegar lá, onde quer que seja. Ambivalência, confusão, relutância e paralisia são caracateristicas do meio-tempo. Se você soubesse a resposta para essas perguntas, estaria tudo bem. No meio-tempo você sente muitas coisas, mas certamente não se sente bem.
A vida seria mais fácil se, quando nos deparamos com um obstáculo durante um relacionamento, conseguíssemos parar, lidar com aquilo e seguir suavemente. A verdade é que, na maioria dos casos, poderíamos fazer exatamente isso. A realidade é que não fazemos! Tocamos em frente, sem parar. Deixamos que pequenos insultos se tornem fúrias, pequenas discussões se tornem disputas, acirradas, pequenas dores se tornem ferimentos profundos, e continuamos indo em frente, sem parar. Em muitos casos, continuamos a sofrer. Quando o tal relacionamento é intimo e amoroso, tentar ir em frente sem lidar com a dor só complica as coisas, envenenando ainda mais o relacionamento.
Como posso ficar e não me machucar? Como posso ir embora sem machucar a outra pessoa? Você não consegue responder a essas perguntas quando está sofrendo. Se conseguissemos manter o amor por nós mesmos e pelo o outro através de uma comunicação honesta e consciente, os desentendimentos, obstáculos ou dificuldades no relacionamento serveriam para nos fortalecer. Quando não conseguimos, praticamos o pior comportamento do meio tempo: machucando, brigando, omitindo a verdade e indo em frente completamente confusos. Confusão gera confusão.
Tudo na vida se relaciona com o amor. O amor é o único significado real da vida. Estar vivo significa que ocupamos a casa do amor e devemos seguir suas regras. Nem a vida nem o amor exigem que as pessoas desistem de sua dignidade, auto-estima, objetivos de trabalho, programa favorito de televisão ou bom-senso. Por algum motivo, nem sempre entendemos isso direito. Acreditamos que é preciso desistir de algo para conseguir outra coisa. Acreditamos nisso especialmente em relação ao amor. Não entendemos que o amor é crescimento, é realização de potencial - ser mais quem você é, fazer melhor o que faz, acreditar com mais convicção e tomar mais posse do que tem. Infelizmente, achamos que podemos nos unir a outras pessoas antes de nos unirmos a nós mesmos. Isso é absolutamente impossível. Você não irá receber amor de fora enquanto não for amor por dentro.
Fonte: Iyanla Vanzant - Enquanto o Amor não vem
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