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sábado, 12 de junho de 2010

Reverencie as Pessoas com LIMITES

Limite são construções mentais, emocionais ou físicas que definem ou delimitam a área dentro da qual uma pessoa se dispõe a estar presente. É o espaço, ou área, dentro do qual uma pessoa trabalha, vive ou deseja estar.
Comentário sobre Limites:

Ela estava bêbada e me telefonava sem parar, pedindo dinheiro emprestado. Eu sabia que ela estava sem trabalho e que não tinha a quem pedir. Eu também sabia que isso não podia continuar para sempre. Não dava para ela continuar bêbada e desajustada para sempre, e não dava para eu sustentar uma mulher adulta para sempre. As pessoas precisam aprender a tomar conta de si mesmas. Precisam aprender que são responsáveis por suas próprias vidas. Se a sua vida não está funcionando, de quem é a culpa? O que devemos fazer quando aqueles à nossa volta não parecem conseguir dar um jeito na própria vida? Como saber até onde se pode ajudar? Eu ficava com raiva só de pensar nessas coisas. O mais engraçado é que eu estava mesmo era com raiva de mim, por ter ultrapassado os meus próprios limites e me envolvido na vida de outra pessoa.

Um de meus professores me disse um dia: "Quando sua vida não tem limites, as pessoas se enfiarão em partes da sua vida onde você não quer que elas estejam e onde elas não deveriam estar. Colocar limites é como traçar uma linha na areia e dizer: 'Daqui eu não passo e nem você'. O fundamental é ser muito clara e decidida com relação ao que você seria capaz de fazer se a linha fosse ultrapassada." No dia em que ele me disse isso, eu me dei conta de que minha vida era um enorme piquenique onde tudo e todos se misturavam. Havia estranhos na minha cozinha e no meu quarto. Havia familiares remexendo meus pertences mais pessoais. Relacionamentos comerciais, sociais e pessoais estavam completamente emaranhados. Todo mundo conhecia todo mundo e tinha alguma coisa a dizer a respeito de tudo. As pessoas corriam como loucas pela minha vida e parecia não haver nada que eu pudesse dizer ou fazer a respeito. Não havia limites.

Enquanto eu refletia, fui me dando conta do que acontecia comigo. Eu conhecia cada detalhe pessoal de todas as pessoas que trabalhavam para mim e comigo, e estava enfurnada nas engrenagens mais íntimas de seu dia-a-dia. Eu sabia demais sobre as pessoas com quem me associava comercial ou profissionalmente. Quando não estava dando conselhos, estava emprestando dinheiro ou ajudando alguém a sair de uma situação que não tinha nada a ver comigo ou com a minha vida. É claro que devemos compartilhar recursos, trocar informações, apoiar aqueles que precisam de apoio. Mas o que acontece se deixarmos as pessoas se virarem sozinhas? Se você continua a fazer pelas pessoas o que elas devem fazer por si mesmas, elas jamais aprenderão a fazê-lo. Isso não reverencia as pessoas. Não reverencia você.

Eu sempre cuidei dos outros. Quando criança, eu cuidava de minha tia quando ela sofria de depressão por causa das brigas com o marido. Quando era adolescente, cuidei de minha madrasta quando ela ficou emocionalmente abalada por causa de meu pai. Como adulta, eu cuidei de três filhos, de um irmão drogado, de um marido namorador e de um exército de amigas com problemas iguais ou parecidos com os meus. Cuidar de uma pessoa significava consertar o que quer que estivesse errado. Se eu não conseguisse dar um jeito, achava que era meu dever encontrar alguém que desse. Se ambas as tentativas falhassem, eu me sentia responsável. Como resultado, vivia envolvida em dramalhões que tinham pouco — quando tinham algum — efeito positivo sobre minha vida. Não havia limites.

Aos poucos fui descobrindo por que eu me empenhava tanto em tomar conta dos outros. Enquanto eu estivesse cuidando de alguém, mantinha o controle sobre a situação. Em segredo, eu queria mesmo era controlar tudo. Sendo o manda-chuva, eu não tinha como me machucar. É claro que acabava sendo usada e manipulada, mas isso era outra história. No fundo, eu queria que as pessoas continuassem mal. É impressionante como conviver com gente fraca faz a gente se sentir mais forte. Cuidar das pessoas e controlar sua vida toma tempo e energia, desviando a atenção das coisas com as quais precisamos lidar em nossas próprias vidas. No entanto, para poder cuidar-se, você precisa impor limites.

O telefonema da amiga aflita foi um alerta para eu desenhar a linha na areia de novo. Eu estava fugindo de mim e ajudando as pessoas a continuarem mais fracas do que eu, outra vez. Minha vida não estava indo bem, e por isso eu estava me envolvendo demais na vida dos outros. Ao me colocar como muleta, eu negava às pessoas a oportunidade de aprenderem o necessário para caminharem sozinhas. Como eu, minha amiga precisava de limites. Ela precisava saber quanto beber, quanto gastar e quando parar, antes de se envolver em alguma encrenca. Se eu continuasse a salvá-la de sua falta de limites, ela jamais aprenderia a fazer sua vida funcionar. A falta de limites não serve apenas para tornar a sua vida desconfortável, faz você contribuir para prejudicar a vida de outras pessoas. Você não pode reverenciar os outros quando está contribuindo para sua autodestruição.

Se eu emprestasse dinheiro para ela mais uma vez, ela não pagaria a dívida, o que me deixaria de novo muito chateada. Quando não há limites, as mesmas decisões erradas se repetem. Se dessa vez eu não dissesse que aquelas bebedeiras estavam afetando nosso relacionamento, ela seguiria em frente. Eu me dei conta de que o mais importante de tudo era honrar as escolhas dela e me honrar. Precisávamos de limites em nossas vidas e em nossa amizade. Cabia a mim desenhar a linha na areia. "Não fico satisfeita com você quando bebe até chegar a este ponto. Quando estiver assim, eu gostaria de que não me ligasse. Vamos estabelecer o seguinte: eu sou sua amiga. Estou aqui para lhe ajudar se e quando precisar. Se quiser sair para fazer compras ou viajar de férias, pode ligar. Vou com você ou até mesmo lhe empresto dinheiro. Você cuida do básico e eu, como sua amiga, ajudarei com os supérfluos."
Extraído do livro: Um dia a minha alma se abriu por inteiro - Iyanla Vanzant

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