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quarta-feira, 2 de junho de 2010

VERGONHA E TIMIDEZ

Vergonha e Timidez

O amor a verdade nos deixa expostos. A vergonha é um dos aspectos do ego, não é real. Ela nasce de uma psique frágil, insegura, cheia de ilusões sobre si mesma. A vergonha nos causa sentimentos de opressão, tristeza, infelicidade, dor e sofrimento. Esta dor é uma dor psicológica, trazida pelas sensações de perda, exposição, erro, inferioridade, humilhação, pela inibição, constrangimento, timidez.

A vergonha é paralisante, pode nos impedir de participarmos de muitas situações na vida. Inesperada e desconcertante, a vergonha nos aprisiona dentro de nós mesmos. Por vergonha, mentimos, fingimos, dissimulamos, falseamos, inventamos, criamos desculpas, explicações, justificativas, não somos fortes, não temos a coragem e a ousadia de aceitarmos nossos erros, nossos limites, nossas imperfeições. Estamos sempre atrás da aceitação dos outros.

Sentimos vergonha quando nosso lado sombra é exposto, quando nossas máscaras caem, quando achamos que vamos perder o controle, quando a sensação de exposição, inferioridade, humilhação, fracasso, imperfeição, inadequação e fraqueza nos domina, quando ficamos expostos em toda nossa falsidade, maldade, maledicência, arrogância, etc. Podemos sentir vergonha por um evento passado, presente ou futuro. Este último caso é, na realidade, um medo de sentir vergonha.

A vergonha é a sensação de que nos depreciamos dentro do conceito de outrem. A vergonha é o resultado de uma preocupação exagerada com a nossa reputação, com a nossa auto-imagem. Aquele que sente vergonha está envergonhado do que é, ou seja, não se aceita como é.

A vergonha é o medo da zombaria, da ridicularização, da exposição, da humilhação, da desonra, do embaraço, da retaliação moral ou material, do castigo, da punição, da rejeição. É a preocupação com o que os outros vão achar, com o que os outros vão dizer, com o que os outros vão pensar, com o que os outros vão fazer. O foco essencial do sentimento de vergonha está no lugar do juízo alheio.

Em verdade, a vergonha é a preocupação com a maldade, o preconceito, a vaidade, a arrogância, dos outros, que não passam de projeções de nossos próprios demônios. Quando projetamos nossas idéias, por mais inconscientes que sejam, ficamos com vergonha por nos sentirmos expostos. Devemos compreender e enfrentar as situações e os nossos demônios. Só assim poderemos vencer as nossas vergonhas.

Sentimos vergonha porque nos cobramos demais, porque vivemos em conflito com nós mesmos, porque nos identificamos, porque nos projetamos, porque não nos aceitamos, porque somos vaidosos, orgulhosos, porque não nos permitirmos errar. Normalmente as coisas que podem nos acontecer não têm importância real, mas se estamos atribuindo a estas coisas uma importância maior que o seu próprio tamanho, então temos aí uma projeção de nossa auto-importância, temos aí um ótimo material para análise.

A importância que tem para nós o escárnio e a zombaria do tolo não é senão a importância que damos ao orgulho, à vaidade que temos de nossa fantasiosa auto-imagem. Não existe importância real em qualquer rótulo que possamos receber por nossas falhas, nossos atos fora de padrão. A quantidade de preocupação está em receber os rótulos que julgamos negativos, maus, inferiores. Isto ocorre porque estamos identificados com rótulos que pré-definimos como positivos, bons, superiores.

A zombaria, o deboche e o sarcasmo virão, isto é certo. Se sentiremos ou não, se reagiremos ou não, dependerá da compreensão que tivermos, da não identificação, da compaixão, da tolerância, da paciência, da aceitação, da humildade.

Sentimos vergonha quando colocamos nossos egos acima dos fatos, quando acreditamos que eles são mais importantes do que os fatos ao seu redor. Quando, por exemplo, achamos que é mais importante manter a imagem do funcionário ideal do que executar o trabalho em si, da melhor forma possível, sentimos vergonha diante dos erros, que inevitavelmente acontecem. O elogio, a auto-imagem, o status, a sensação de poder, de prazer, tornaram-se mais importantes do que o trabalho.

Então, quando acontece a possibilidade de crítica, quando acontece uma exposição, uma ameaça à auto-imagem, sentimos vergonha. Se o foco for o trabalho e não o ego, é possível ver cada erro como uma forma de aprendizado. Não resistir aos erros, não tentar evitá-los, aceitá-los com naturalidade, faz parte de nosso crescimento. Se o foco for o trabalho e não o ego, o que existe é apenas o trabalhar, o ego se desfaz no trabalhar, o “eu trabalhando” não está em evidência, e isso nos leva à paz, à tranqüilidade, à serenidade. Melhor ainda pode ser quando dedicamos, quando devotamos esse trabalho ao nosso Deus Interno, ao nosso Pai Interno, à nossa Mãe Divina. Se o desfazer-se nos leva à paz, o devotar-se nos leva ao êxtase.

Quando nos tornamos, ou melhor, nos colocamos como objeto da atenção alheia, ficamos com a sensação de estarmos sem controle, de estarmos em poder dos outros, ficamos com a sensação de impotência. É comum enrubescermos quando nos tornamos objeto da atenção de um grupo de pessoas, seja ele grande ou pequeno, até mesmo quando esta atenção é motivada pelo elogio. Neste caso, somos propensos a sentir orgulho e vergonha ao mesmo tempo.

Muitas vezes, aquele que enrubesce fica ainda mais vermelho pela vergonha de ter enrubescido, pois sente-se mais exposto por tal reação. É difícil aceitarmos nossas condições, nossos limites, queremos ser perfeitos, queremos parecer perfeitos.

Quando ficamos ansiosos, quando ficamos na expectativa de nos sairmos bem em uma determinada situação, quando chegamos a esse ponto, já estamos identificados com a personalidade, é o ego que quer se sair bem. A ansiedade gera tensão e nervosismo, que arduamente tentamos disfarçar para que os outros não percebam. Não aceitamos o estado em que nos encontramos, começamos a ficar com vergonha do nosso próprio estado emocional, e um imenso conflito, uma enorme pressão ocorre dentro de nós.

Por vergonha de pedir orientação no trânsito, por exemplo, podemos desperdiçar um enorme tempo circulando perdidos pelas ruas. Podemos chegar até a perdermos um compromisso importante por causa disso. Quanto maior a vaidade, o orgulho, o amor próprio, o apego à auto-imagem, maior o medo da vergonha, maior o medo de ser rotulado, julgado, rejeitado, maior a nossa resistência.

Quando somos observados, quando percebemos que alguém nos observa, ou mesmo quando imaginamos que alguém está nos observando, alteramos nossas feições, nosso modo de andar, nossa postura. O observador pode até nem dizer nada, nem pensar nada, mas nos colocamos como objeto do pensamento, do olhar dele, e, identificados com nossas fantasias, com nossa auto-imagem, toda uma revolução se deflagra dentro de nós. Se um sujeito é vaidoso, por exemplo, irá se sentir o máximo ao acreditar que está sendo admirado.

Sentimos vergonha em situações de humilhação, mas também podemos sentir vergonha em situações de elogios. Sentimos vergonha por desejarmos parecer aquilo que não somos. Parece que a vergonha está sempre associada a sensações de exposição, vulnerabilidade, inferioridade. Estas sensações não ocorrem com todo mundo, não ocorrem com qualquer um. Ocorrem se existir a possibilidade de os outros perceberem nossos erros, nossas falhas, nossos limites, nossas dificuldades, pois sempre nos achamos melhores, nos achamos superiores diante de quem erra.

Assim, se erramos, nos sentimos inferiorizados. E aí certamente sentiremos vergonha daquelas pessoas que acreditamos estar em nível igual ou, sobretudo, acima do nosso. É uma questão de autodefinição e definição dos outros, comparação entre definições, relação entre definições. Se o simples fato de sermos julgados causasse, por si só, vergonha, viveríamos eternamente envergonhados. Afinal, sempre existe alguém a nos julgar, assim como sempre costumamos julgar os outros. Não existe alguém que tenha a aprovação de todos, que tenha aceitação de todos.

Assim, podemos observar facilmente que não sentimos vergonha perante qualquer juízo, perante o juízo de qualquer um. O juízo que pressupõe alguém reconhecidamente capaz de julgar é o juízo que nos faz sentir vergonha.

Sentimos vergonha quando, ao dizermos ou fazermos algo, nos lançam olhares de desprezo, espanto, assombro, como se estivessem a nos chamar de burros, de idiotas. Parece que ainda temos medo de cara feia. Se ficamos preocupados com a opinião dos outros é porque não damos muita importância para a nossa própria opinião. Se ficamos preocupados com o julgamento dos outros é porque ainda julgamos muito.

Quando somos traídos, também sentimos vergonha. Ficamos com a auto-imagem e o orgulho feridos, porque acreditamos que vão sentir dó de nós, rir de nós, porque vão achar que somos tolos, fracos, incapazes. Devemos compreender bem a vergonha, a culpa e o medo, pois esses sentimentos escondem muitos dos nossos condicionamentos.

Estamos sempre preocupados em não passar vergonha, em sofrer perdas, retaliações, rejeições, desmoralizações. Todas essas circunstâncias estão condicionadas ao ego, não ao Ser. Porém, atribuímos mais importância ao nosso ego do que ao nosso Ser, à nossa consciência ou o Self, como diz Jung.

A vergonha é gerada a partir da crença nas ameaças, ameaças contra a auto-imagem e contra as ilusões que alimentamos sobre nós mesmos; ameaças de perdermos nossas virtudes, ilusórias virtudes, pois as virtudes reais, conscientes, nunca perdemos.

O arrependimento é a tomada de consciência, não é um motivo de vergonha, mas de alegria, pois significa uma expansão da consciência. Sem consciência, somo vítimas de nossos egos, o que sentimos em situações aparentemente constrangedoras é medo, vergonha, orgulho, vaidade.

Ao tentarmos reduzir o medo, a culpa, a ansiedade e a vergonha, é preciso cuidar para que não passemos a agir com descaso, desrespeito, indiferença, desprezo, desatenção, desdém, desleixo, desmazelo.

Sobre a Vergonha do Externo a Nós

Por vergonha, por medo de rejeição, por queremos agradar os outros, por vezes ficamos muito sem jeito, ficamos acanhados ou embaraçados, para nos comunicarmos, para dizermos algo, para nos manifestarmos. A vergonha esta relacionada com culpa, timidez, pudor, honra, humilhação, brio, embaraço.

Podemos sentir vergonha por ações de alguma pessoa, o que acontece por nos acharmos responsáveis por ela, por acharmos que estamos associados a ela, por acharmos que ela esta nos expondo.

Nossa personalidade é a forma pela qual nos apresentamos ao mundo, ela inclui nossos papéis sociais, carro, casa, tipos de roupas, estilo de expressão pessoal, para personalidade, para o ego, todas estas coisas são objetos de satisfação, de auto-afirmação, fazem parte de uma auto-imagem.

Mas as pessoas da família, os amigos, o trabalho, a profissão, a religião, também são como objetos para personalidade, para o ego, todos fazem parte de uma auto-imagem, também sendo utilizados em nossas necessidades de auto-afirmação, de satisfação.

Assim podemos sentir vergonha de amigos pobres, principalmente perto de amigos ricos. Podemos sentir vergonha de amigos chatos, principalmente perto de amigos legais. Podemos sentir vergonha de amigos religiosos, principalmente perto de amigos não religiosos. Podemos sentir vergonha dos pais quando estamos próximos a alguns amigos, o que parece acontecer principalmente na adolescência. Mas tudo depende do contexto, da situação.

Sentimos vergonha de nossas crenças quando estamos em um grupo que não comunga das mesmas crenças, das mesmas idéias, por fraqueza, por covardia, por medo de rejeição, de ridicularização, somos capazes de fingir e até de negar nossas crenças. De forma que nossas crenças, não passam realmente de crenças e jamais chegarão a ser uma fé, enquanto continuarmos a ser assim, nojentos e rastejantes. Nossos princípios são trocados pela aceitação dos outros.

A história relata que muitos morreram por seus princípios, precisamos estar dispostos morrer por nossos princípios, pelo menos uma morte psicológica, isso é urgente, se é que realmente temos princípios.

O que fazemos hoje é dar mais valor, mais importância, para nossos egos, para nossas ilusões sobre o mundo, para nossos prazeres e necessidades, que nunca nos trouxeram felicidade real, do que para nossos princípios, nossa consciência, nosso real e verdadeiro Ser. Toda questão se resume em querermos mudar nossos estados, isso deve ter mais importância do que qualquer outra coisa, nossa consciência, nosso real e verdadeiro Ser, deve ter mais importância do que qualquer outra coisa.

O julgamento, a crítica, a reclamação, são formas de defesa, fazemos isso para ficarmos melhores, superiores ao outros, para nos sentirmos mais a vontade, menos expostos, para nos expressarmos

Sobre a Vergonha e os Padrões

A vergonha nasce da comparação entre nossas ações e nossos conceitos, padrões, valores, ou das comparações que fazemos entre nós e as outras pessoas, o que, na realidade, também se refere a nossos padrões, conceitos, valores, aos nossos julgamentos.

Podemos "morrer de vergonha" de certos atos, fatos, situações, pelos quais jamais nos culpariam ou nos condenariam. Mas, por imaginarmos esta possibilidade, nos envergonhamos. Uma situação que é vergonhosa para uma pessoa pode não ser para outra, pois a vergonha está baseada em padrões, valores, regras, conceitos, preconceitos, objetivos, expectativas, e cada um de nós tem os seus próprios.

Nossos valores estão associados à nossa auto-imagem de forma sistemática, hierárquica. Assim, o que é moral para uma pessoa pode não ser para outra; o que é motivo de vergonha para uma pessoa pode não ser para outra. Tudo vai depender de como esses padrões, valores, regras, conceitos, preconceitos, objetivos, expectativas, estão organizados.

Logo, não só os padrões, valores, regras, conceitos, preconceitos, objetivos, expectativas, são diferentes para cada pessoa, como também sua organização é diferente. A importância atribuída a cada um deles é diferente em cada indivíduo. Assim, para alguns, ser justo pode parecer mais importante do que ser famoso; para outros, ser rico pode parecer mais importante do que ter paz.

Tudo está dentro de nós, todas as idéias de vergonha estão dentro de nós. Podemos perceber isto quando sentimos vergonha e estamos sozinhos. Neste momento, damos graças a Deus por não haver ninguém por perto; do contrário, a sensação seria pior. Quem sente vergonha julga a si próprio.

Identificados com grupos, sentimos vergonha quando não nos enquadramos dentro dos ideais desses grupos, ideais estes que podem estar apenas em nossas mentes. Uma pessoa elegante que não está arrumada, sente vergonha ao se aproximar de outra pessoa elegante. Em contrapartida, se estiver próxima de uma outra pessoa qualquer, nada sente; às vezes, sente até orgulho, o que é mais provável.

Uma pessoa luxuriosa, que se diverte com revistas pornográficas, pode ficar com vergonha diante das pessoas que condenam ou não gostam de pornografia. O luxurioso acredita que essas pessoas são mais corretas do que ele. Porém, certamente se sentirá confortável ao lado de outra pessoa luxuriosa.

Um outro aspecto da vergonha é a vergonha de mudar de opinião. Temos orgulho demais para admitir uma mudança de opinião; não estamos dispostos a agüentar a chateação e a zombaria dos outros, é difícil assumir que estávamos errados ou que simplesmente mudamos de idéia.

Estamos preocupados demais com nossa auto-imagem, não suportamos ouvir de terceiros que eles nos avisaram, nos aconselharam, que disseram que não iríamos sustentar a opinião por muito tempo. Não suportamos os rótulos. Precisamos assumir as responsabilidades, as conseqüências de nossas ações, de nossas escolhas.

Temos idéias fixas, opiniões fixas; ou gostamos de açúcar ou não gostamos, não concordamos muito se alguém usa açúcar em uma determinada coisa e em outra não. Ou gostamos de uma cor ou não gostamos, não aceitamos bem a idéia de alguém gostar de uma determinada cor para um objeto e para outros não. Ou comemos carne ou não comemos, não aceitamos que alguém queira comer carne quando tem vontade.

As coisas têm que estar bem definidas e têm que obedecer aos padrões. Quando não seguimos padrões, somos rotulados de estranhos, esquisitos, tolos, incoerentes. Precisamos ser coerentes com nós mesmos, com os nossos princípios, nossos sentimentos, nossas emoções; não com padrões, idéias, conceitos e preconceitos de terceiros.

É comum temer as pessoas que mudam de opinião, que mudam de comportamento. Esse temor tem origem no fato de não se saber como elas vão reagir. Todos querem que sejamos sempre iguais por causa de suas inseguranças. A opinião é um agente limitador. Limitamo-nos com nossas próprias crenças, opiniões, idéias.
Desconheço Autor

2 comentários:

  1. Manu minha amiga parabenizo vc pelo belo blog e em especial esse belissimo texto.bjs

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  2. Obrigada Lú. Também gostei muito desse texto. Beijos.

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Obrigada por comentar.